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Ao mestre com amor

Atualizado: 4 de fev. de 2023

Saudades de 74: você poderia ter ficado mais.



Fig. 1: Ilustração do Oswaldo Teixeira pelo seu neto Eduardo Ariel (Teixeira, 2021)


Quando estava pesquisando o material para fazer o texto do meu tio e padrinho, Cláudio Valério Teixeira, descobri uma monografia de especialização escrita sobre o meu avô. Fiquei muito alegre em ler aquele material. Parabéns André Luiz Barroso pela iniciativa! Agradeço publicamente a sua orientadora Profa. Sandra Regina Santana Costa pela condução primorosa de seu aluno. Felicito o Instituto de Artes da Universidade de Brasília por recuperarem uma parte tão relevante da história da arte do Brasil.


Seguem abaixo alguns parágrafos do belíssimo trabalho final de curso, relatando sobre como Oswaldo teve uma infância bem complicada:


Oswaldo Teixeira (1904/1974) nasceu no Rio de Janeiro, na Gamboa e ainda morou na Saúde, bairros na época chamados de Pequena África, filho de um português da cidade do Porto e de uma brasileira de Maricá. Ainda menino, foi criado no extinto morro do Castelo. O pai de Teixeira era construtor e tinha uma certa estabilidade, como classe média. Mas, maus negócios, letras endossadas, empréstimos em dinheiro, fizeram sofrer as consequências de seus gestos, além de contrair uma enfermidade que o impedia de trabalhar. Oswaldo teve uma infância de extrema pobreza, e mesmo assim, teve incentivo paterno para seguir sua vocação. Foi matriculado por seu pai no Liceu de Artes e Ofício, onde aprendeu a pintar com Argemiro Cunha (1880/1940) e José Pereira Dias Júnior (1897/1921, um artista negro, professor do qual tanto se orgulhava, e de quem também aprendeu a falar francês), Eurico Alves e José Ferreira Dias Júnior.


Aos treze anos, com o falecimento prematuro de seu pai, teve que tirar o sustento da família, desenhando cartazes, retratos e "reclames" para o comércio local. Duarte, um português, vizinho de Teixeira no morro do Castelo, lembrou uma passagem do artista no Jornal do Brasil (29 de outubro de 1951), dizendo que o pequeno artista precisava que ele posasse nos fundos da loja do próprio Duarte. Conseguiu fazer uma cabeça do modelo vivo em 2 horas. O trabalho foi tão bom, suas qualidades eram tão grandes, que após curta exposição no saguão da loja, foi vendido por um conto de reis. Já nessa idade, já expunha trabalhos no Salão Nacional. Sua mãe dava aulas particulares para meninos do morro do Castelo, cobrando tostões, já que no começo do século XX, o trabalho feminino era raro e desvalorizado. Ainda enfrentaram o despejo criminoso do morro do Castelo. Duarte ainda confidenciou que ficou com alguns desenhos, pois com a mudança, teve que se desfazer de muitos objetos pessoais e naturalmente desenhos antigos. E desses desenhos, algumas pessoas ofereceram 500 cruzeiros. (BARROSO, 2018)



Outros trechos importantes abordam o prêmio de viagem e seus estudos na antiga Escola de Belas Artes:


Um outro ponto significativo foi sua passagem pela antiga Escola de Belas Artes,

onde obteve orientação de Rodolfo Chambelland (1879/1926) em desenho de

modelo vivo e de Batista da Costa (1865/1926) em pintura; e conquistou, em 1924, o prêmio de viagem à Europa com 19 anos, com o quadro "O pescador". Dessa forma, não podemos deixar de mencionar que foi o mais jovem artista a receber a distinção em toda a história da Instituição e o único pintor brasileiro a receber todas as honrarias possíveis em sua categoria e um dos mais premiados pintores brasileiros.


Ficou fora do País durante alguns anos, permanecendo na Europa

até 1927, ocupado entre a Academia Inglesa, seu estágio em Florença (foi aluno da Brittish Academ of Rome) e Paris. Esse quadro de complexidade coloca o pintor em contato com os maiores pintores e pensadores do período, como Dali e Jean-Paul Sartre. (BARROSO, 2018)



Jean-Paul Sartre (Paris: Gallimard, 1949, apud BARROSO, 2018) em um breve relato, fez a seguinte observação: "Ele não sugere o movimento, ele o capta". (Arquivo pessoal da família, cartas).


O retorno ao Brasil foi com uma grande exposição e outros trabalhos importantes. Dentre eles alguns de cenografia, conforme Barroso (2018) conta:


Voltando ao Brasil, exibe em 1928, no Palace Hotel (Rio de Janeiro), a mostra com sua produção de 15 trabalhos realizada na Europa, no Salão Oficial.


Nesta volta, recebeu a medalha de ouro com o quadro Grito de Luz. O sucesso foi enorme e o reencontro com alguns dos seus amigos, Procópio Ferreira, Ismael Nery e Ronald de Carvalho, levou Oswaldo Teixeira a trabalhar com cenografia para teatro e cinema, assim como ilustrador na grande imprensa, emprestado seus traços para a revista "O Cruzeiro".


Produziu cenografia para o movimento teatro Escola e realizou cenários e figurinos pra Humberto Mauro, inclusive para o filme Argila, considerado marco fundador do cinema brasileiro. Também trabalhou para Carmen Santos no filme "Favela dos meus amores", considerado um ícone do cinema brasileiro.


Ainda cabe apresentar sua relação com outro importante personagem da arte brasileira, quando Monteiro Lobato (THIAGO ALVES VALENTE : p. 224, apud Barroso, 2018) refere-se ao pintor:


Caracteriza-se como pintor a intuição agudíssima do que é a luz. Um criador audacioso de neologismo poderia dizer dele que é um luzista como

se diz colorista (...).


Seu falecimento também esteve em um trecho da monografia:


Morre em 28/05/1974, aos 70 anos, vítima de uma trombose cerebral. Foi enterrado no cemitério São João Batista. (BARROSO, 2018)



Fig. 2: Ilustração do Oswaldo Teixeira para jornal (acervo da família, 2021)




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